segunda-feira, 22 de novembro de 2010

childish memories


Essa música me lembra meus tempos de infância, você sabe. Quando eu costumava brincar de casinha, de boneca... Quando eu não tinha muitos problemas, nem precisava fingir nada. Meu sorriso era sincero, minhas palavras eram doces e os contos de fada habitavam meus pensamentos.

Cantava músicas, dançava, girava e girava, como se eu estivesse a brincar com fadas e gnomos. Eu ouvia as histórias de meu tio. Nelas, eu e minha prima visitávamos frequentemente nossa amiga imaginária e com ela vivíamos aventuras maravilhosas, conhecíamos personagens inimagináveis, nos perdíamos numa floresta para no fim da tarde encontrarmos o caminho de volta para casa.

Eu desenhava muito. Os desenhos não saíam perfeitos, mas a cada vez eu tentava me superar. Coloria cada vez melhor, não saía mais dos limites da gravura. Princesas, fadas, bosques, animais, todos ganhavam forma e cor, tornando-se mais alegres. Quase vivos, quase vivos.

Gostava de participar das peças da escola. Estava em quase todas. E em quase todas que eu estava, era a narradora. Eu conduzia a história, meus coleguinhas a encenavam. A professora, escondida na cortina, sempre nos lembrava as falas, mas eu quase nunca pedia ajuda a ela. Fazia um esforço para lembrar sem precisar de ajuda. Orgulho de criança.

As mesas eram esconderijos quando eu brincava de pique-esconde com a turma. Hoje em dia, se esconder embaixo de mesa é fazer papel de ridícula, de bêbada. Nem as crianças de atualmente se escondem embaixo de mesa. Você entende, elas estão cada vez mais querendo parecer com adultos. Enquanto os adultos querem voltar a ser crianças...

Lembro que ia para a pracinha toda noite, logo depois do banho que tomava quando se acabavam os deveres. A praça ficava a uma quadra de casa. Eu andava de bicicleta, brincava de ciranda com as meninas do bairro, de pega-pega. Era uma luta para que minha mãe conseguisse me convencer a ir embora, mas a promessa de um jantar saboroso sempre me fazia voltar para casa.

Depois do jantar, eu assistia um pouco de TV. Sempre teimava e via as novelas. Mamãe ralhava comigo, mas eu nem escutava. Depois da novela, eu ia para meu quarto e lia livrinhos de contos de fada ou revistinhas em quadrinhos. Eu aprendi a ler cedo. Meus pais poucas vezes precisaram ler para mim antes de ir dormir. Eu gostava de me enveredar pelas palavras sozinha. Era uma aventura e tanto para mim.

Outra coisa que eu também adorava era o Natal. Em meados de dezembro, eu pegava o pinheiro de plástico desmontado e começava a montá-lo. Todo ano eu conseguia deixar o pinheiro um pouquinho mais alto, mas eu sempre acabava por pedir ajuda para alguém mais alto que eu. Enquanto isso, eu ia colocando os enfeites. Quando estava montada a árvore, eu ligava o pisca-pisca e ficava olhando as cores piscando. Era hipnotizante ver o rosa, o azul, o vermelho, o amarelo, o verde, todos a brincar harmoniosamente.

Agora a música está acabando, meu caro. Minhas memórias de infância estão se esvaindo e eu tenho que voltar para o vazio de meus dias. Vou continuar tentndo resgatar a criança que ainda há dentro de mim, mas não posso lhe garantir nada.
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texto meio grandinho, né?
feito num momento de nostalgia. lembrei da minha infância, de quando tudo era mais fácil. então escrevi isso. como um adulto se recorda do que aconteceu no período mais áureo da vida de qualquer um. pena que as crianças de hoje em dia estão aproveitando cada vez menos essa fase maravilhosa. digo isso porque vivi e ainda vivo isso. na pressa de envelhecer, não acho que aproveitei o suficiente. mas ainda tento guardar esse sentimento pueril dentro de mim, por mais diícil que seja.

3 comentários:

Lilian Larrañaga disse...

Olá Valéria, tudo bem? :)
Puxa, quero agradecer pelo comentário suuper fofo que deixou lá no meu blog! Eu fico muito feliz em saber que gosta dos meus looks e das minhas coisinhas, hihi :)
Seja sempre muito bem-vinda lá!
beijocas :****

Unknown disse...

testando comentário!

Unknown disse...

I do believe in you

Às vezes vejo a vida como um grande quebra-cabeças, mas não só... Vejo-a como uma mistura de constatações, ilações, intuições, carências, sonhos... ou simplesmente o resultado do pensamento de alguém com a cabeça cheia ou com a barriga vazia. Interessante que algumas coisas que nos parecem complexas se afiguram demasiado simplórias para outras pessoas. Interessante como, às vezes, construímos preocupações artificiais porque somos incapazes de perceber as reais. Embora seja um exercício de autoenganação, também não deixa de ser um exercício de autoconhecimento! O sentido de utilidade é bem mais amplo do que uma atividade remunerada ou o curso da escola regular. Assim, mesmo essas invenções são úteis, não obstante requeiram cuidados.

Gosto de ler você também através do seu blog. Sim, eu leio você fora dele. Sou um leitor de almas, ou, ao menos alguém que o tenta. Mas a minha leitura serve somente a mim, porque faz parte da minha visão sobre o que está fora do meu eu. A sua leitura de si mesma é que deve ser considerada. Mas calma! Não dá pra ler um livro quase infinito em alguns poucos anos... O espírito brota de dentro para fora, projetando-se pouco a pouco sobre as limitações externas: cultura, educação, hábitos, crenças, idade etc. Crescer é tornar-se cada vez mais consciente. A Valéria de hoje é certamente mais consciente que a dos tempos de criança. O equilíbrio pretérito refletia falta de pensamento crítico do mundo, das pessoas e de si mesmo. Por isso a infância é tão saudosa e mágica para todos nós. Não temos angústias e a nossa sinceridade faz que caminhemos, quase sempre, em caminhos de anseios reais, pois ainda não temos o hábito de inventar problemas. “O poeta é um fingidor”, dizia Fernando Pessoa. Mas não só o poeta. Para se fazer poeta, não raro o homem finge. A experiência, no entanto, nunca é vazia.

Anima-me em ver como você gosta de passear pelos caminhos da língua. Se não lhe sobrasse mais nada de certeza na vida, acho que dessa você não poderia duvidar – “Eu aprendi a ler cedo. Meus pais poucas vezes precisaram ler para mim antes de ir dormir. Eu gostava de me enveredar pelas palavras sozinha. Era uma aventura e tanto para mim.”

Na vida, ou temos poucas certezas ou não pensamos. “Pensar sem estudar é vã tarefa. Estudar sem pensar é perigoso!”, dizia um sábio do oriente. Seja sempre sincera consigo mesma e saiba valorizar as poucas certezas, pois alicerces firmes permitem grandes construções. Nunca se deixe levar pelo pensamento da maioria, pois ele quase sempre não reflete verdadeiro pensamento, mas imitação de práticas anteriores que nunca tiveram fundamento.

Abraços de espocar!

Do seu tio chato.